Como escrever com clareza e organizar seus pensamentos com intenção.

  • Por que boas ideias são rejeitadas com frequência, mesmo quando existem evidências concretas que as suportam?

  • Por que uma boa ideia não é garantia de apoio e entusiasmo?

  • Uma pergunta ainda mais importante: é possível persuadir quem não deseja ser persuadido?

  • Quando alguém convence você sobre a importância de uma ideia, como você se sente?

  • E quando você se convence sozinho sobre a importância de uma ideia, por que isso cria uma experiência diferente?

Essas são algumas das perguntas no centro da minha busca por um entendimento profundo sobre os desafios que a gente encontra quando tenta ajudar outras pessoas a enxergar o valor e o potencial das nossas ideias e projetos.

Sou especialista em psicologia da comunicação e trabalho na área há mais de duas décadas. Nos últimos dez anos, concentrei meus estudos em storytelling e escrita criativa. Nas minhas incontáveis conversas com escritoras e escritores, pude confirmar algo que eu já intuía. Todo mundo que registra seus pensamentos em textos tem algo em comum: a crença de que suas ideias são relevantes.

📃 Da cabeça para a página

Mas na viagem entre a cabeça e a página em branco, essa relevância muitas vezes acaba se perdendo. O resultado são textos que não fazem um bom trabalho representando o valor que seus escritores reconhecem em suas ideias. Existe um claro desalinhamento entre intenção e execução.

Ao longo dos anos, identifiquei dois perfis básicos de escritores. O primeiro perfil tinha a intenção de transmitir sua ideia para outras pessoas para convencê-las sobre a importância do que tinham para dizer. O segundo perfil estava focado em recriar sua ideia na mente de outras pessoas para permitir que elas mesmas reconhecessem essa importância.

Transmitir e recriar representam duas formas diferentes de selecionar e organizar informações.

Transmissão é uma via de mão única: “Aqui está uma ideia muito importante que você precisa entender.”

Recriar pressupõe desconstrução e reconstrução: “Deixa eu te mostrar como eu cheguei até essa ideia para você reconhecer o valor que reconheço nela.”

Percebi que os escritores com o segundo perfil produziam textos mais envolventes. Decidi testar os limites dessa conclusão em 2015.

🎎 Emoções brasileiras traduzidas para japonês

Estudei japonês em Tóquio por um ano e meio. Todos os anos minha escola organizava um concurso de palestras. Cada aluno precisava escrever um texto. As turmas, então, escolhiam um representante para palestrar no palco de um auditório lotado com todos os alunos, professores e diretores da escola, além de jurados convidados.

No meu primeiro ano morando no Japão, eu estava no nível básico na época do concurso. Apesar da professora ter gostado do meu texto (que traduzi para japonês usando o tradutor do Google), era uma palestra ambiciosa demais para alguém que recém tinha começado seus estudos. Um ano depois, eu estava no nível intermediário e já conseguia me expressar melhor em japonês.

Era minha chance de testar minha teoria na prática, de descobrir se essa forma envolvente de organizar meus pensamentos teria impacto em uma cultura tão diferente da minha.

Na palestra, falei sobre minha vó Ida, que foi morar com minha família quando meu irmão mais velho nasceu. Cresci sob os cuidados dela. Contei de como sempre fomos muito próximos em função do nosso gosto em comum pelas artes.

Relatei como foi difícil viver longe dela quando me mudei para a Austrália em 2006, sobre como cada visita ao Brasil me fazia pensar se aquela seria a última vez que eu a veria, sobre como o medo dela morrer me assombrava, sobre como cada ligação que eu recebia de casa me deixava ansioso porque poderia trazer essa notícia.

Em maio de 2011, meu irmão ligou para me avisar que a vó Ida tinha morrido.

Quando cheguei nessa parte da palestra, lembro da sensação incrível de ter nas minhas mãos a atenção absoluta de um auditório lotado, mas lembro também do senso de responsabilidade. Eu tinha acabado de recriar na mente de outras pessoas uma memória dolorida da minha vida pessoal. Agora elas estavam esperando que eu as ajudasse a processar aquela dor e extrair significado daquela experiência. Foquei o resto da minha palestra em fazer exatamente isso.

Fiquei em primeiro lugar no concurso, vencendo estudantes de níveis mais avançados, com muito mais fluência na língua do que eu e com discursos sobre tópicos muito mais complexos. Várias pessoas me procuraram depois da cerimônia de premiação para me dizer o quanto a palestra havia mexido com elas.

Se quiser assistir ao meu discurso em japonês, clique aqui.

Por que os japoneses se envolveram com a história de um rapaz brasileiro e sua avó? Por que essas pessoas se emocionaram com as memórias de alguém que elas nem conheciam?

🪜 Criando uma hierarquia de informações

O impacto do meu discurso não é resultado apenas da história que contei, mas principalmente da forma estratégica como estruturei o texto ajudando as pessoas a olhar para o mundo com os meus olhos durante os sete minutos da minha fala.

A estrutura de um texto é a forma particular como o você cria uma hierarquia de informações, decidindo estrategicamente a ordem em que você vai compartilhar tudo o que considera relevante sobre sua ideia e a ênfase que vai dar para cada informação.

Ao estabelecer conexões significativas entre conceitos, referências, exemplos e dados, um texto flui com naturalidade e cria um senso de movimento. Movimento traz implícita a ideia de mudança, de um lugar para outro, de um pensamento para outro, de uma emoção para outra, de uma perspectiva para outra.

O feito mais incrível de um conteúdo que gera entusiasmo e envolvimento é ele funcionar como um barco que ajuda outras pessoas a navegar um mar de informações frase por frase, parágrafo por parágrafo, passagem por passagem, e terminar essa viagem levando essas pessoas para um lugar diferente de onde elas começaram.

Como fazer isso? Como diminuir a distância entre aquilo que enxergamos com tanta clareza na nossa mente e as palavras que compartilhamos com outras pessoas?

Abaixo, quatro dicas inspiradas em uma TED Talk do Chris Anderson.

  1. Desenvolva apenas uma grande ideia por texto e construa um raciocínio claro, objetivo e coerente.

  2. Desperte curiosidade no início do texto para ganhar a permissão das pessoas para entrar em suas mentes e reconstruir sua ideia lá dentro.

  3. Cultive empatia apresentando sua ideia com linguagem, conceitos e referências que façam sentido para sua audiência, não só para você.

  4. Compartilhe uma ideia que gera valor, não que sirva apenas como marketing dos seus produtos e serviços.

Essas dicas me ajudaram a definir os quatro pilares que guiam a escrita de todos os meus textos: clareza, estratégia, autenticidade e fluidez.

São esses mesmos pilares que avalio nos textos dos profissionais com quem trabalho.

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